MONTE DE LEITURAS: blog do Alfredo Monte

23/01/2018

Destaque do Blog: “Machado”, de Silviano Santiago

 

(Uma versão da resenha abaixo foi publicada originalmente em A TRIBUNA de Santos em 23 de janeiro de 2018)

No século passado, dois projetos monumentais ficaram inacabados. Eu os chamo de livros-link, que abrem a todo momento janelas para o leitor. Em “Passagens”, de Walter Benjamin tentava-se reunir todos os dados que explicavam como Paris tornou-se a capital do século dezenove. Em “O Idiota da Família”, de Jean Paul Sartre tomava-se um indivíduo e pesquisava-se toda a sua época.

Em “MACHADO”, guardadas as devidas proporções, Silviano Santiago escreveu um livro-link e conseguiu terminá-lo. Focando os anos de viuvez de Machado de Assis e a celeuma em torno da eleição para a Academia Brasileira de Letras de seu protegido e amigo, Mário de Alencar, filho de José de Alencar e escritor medíocre. A epilepsia é o fio condutor dos temas e personagens:

— Arte com o produto da doença;
— Miguel Couto, médico de Machado de Assis e Mário de Alencar, o qual se beneficiou com a encilhada, especulação financeira e imobiliária que mudou a paisagem social na transição da monarquia para a república;
— A radical reforma urbana que transformou o Rio de Janeiro levada a diante por Pereira Passos;
— A relação do pai de Gustave Flaubert com seu filho;
— O papel de Flora no romance “Esaú e Jaco”;
— A escrita de “Memorial de Aires”;
— A importância de José de Alencar e Joaquim Nabuco na vida intelectual de Machado de Assis;
— O simbolismo do quadro “A Transfiguração” de Rafael.

Eu sei, leitor, é preciso paciência e paixão, pois é um romance saturado, na linhagem de Thomas Mann, meu autor predileto. Eu já disse e repito: é o livro que eu gostaria de ter escrito.

09/01/2018

LEITURAS MARCANTES DE 2017: PARTE DOIS

(Uma versão da resenha abaixo foi publicada originalmente em A TRIBUNA de Santos em 09 de janeiro de 2017)

A literatura brasileira atual vai muito bem, obrigado. Veja por que:

Modos inacabados de morrer”, André Timm, Editora Oito e Meio: apesar de algumas ressalvas, um romance talentoso. Sobre um protagonista que sofre de narcolepsia.

A oração do carrasco”, Itamar Vieira Junior, Editora Mondrongo: contos cheios de momentos impactantes.

Miss Tatto”, Luiz Roberto Guedes, Editora Jovens Escribas: as aventuras e desventuras dos “tiozões”.

A Jaca do cemitério é mais doce”, Manoel Herzog, Editora Alfaguara: ainda são poderosas a pena da galhofa e a tinta da melancolia, como nos ensinava Machado de Assis.

Outros Cantos”, Maria Valéria Rezende, Editora Alfaguara: a obra-prima da grande escritora (prêmio Casa de Las Américas, prêmio São Paulo de Literatura e Jabuti).

Naufragar jamais”, Pedro Alberto Ribeiro (poeta em queda), Editora 11Editora: em cadernos soltos poemas de grande força.

Diário da Cadeia com trechos da obra inédita impeachment”: Eduardo Cunha (pseudônimo), Ricardo Lísias, Editora Record: o poder absoluto da ficção.

Machado”, Silvano Santiago, Editora Companhia das Letras: um romance que eu gostaria de ter escrito, um mosaico em torno dos anos de viuvez de Machado de Assis (prêmio Jabuti e prêmio Oceanos).

O passado é lugar estrangeiro”, Suelen Carvalho, Editora Patuá: uma estreante com voz própria.

Insolitudes”, Tiago Feijó. Editora 7Letras: contos humanos e irretocáveis.

Gotas no Asfalto”, Vlademir Lazo, Editora Penalux: expectativas frustrantes gerando boa literatura.

 

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