(Uma versão da resenha abaixo foi publicada originalmente em A TRIBUNA de Santos em 03 de outubro de 2017)
Nos cinquenta anos de sua morte, um dos textos mais fascinantes de Guimarães Rosa, “A Terceira Margem do Rio”, ganha uma versão ilustrada, recontando a história do pai que abandona a família, mas permanece em sua vida, morando numa implausível margem do rio.
Na sua dedicatória, ao pai e ao filho, Odilon Moraes deixa claro o que está em jogo: o mistério da paternidade, ao mesmo tempo presença e a ausência. Na sua versão a insolitude é afiada com a escolha de um nome feminino para o filho: “Logo que o filho nasceu, o homem endoidou. ‘Vai se chamar Rosa’, disse. ‘Rosa, só Rosa, mais nada. Rosa, igual nome de flor’”.
O relato é parco de palavras, explorando a força das ilustrações que ficam a cada página mais despojadas.
“Um dia, na madrugada, pegou a canoa e partiu. Rio abaixo, rio afora, rio adentro fez morada. Nem de um lado, nem de outro. De meio a meio, no rio. Do pai nada mais se soube. E o filho a quem dera o nome cresceu, encorpou, virou homem. Certo é que nem um dia deixara de acreditar no pai que ainda estaria chamando de algum lugar”.
O pai sempre chama de algum lugar, seja no estilo enigmático de Guimarães Rosa, seja num extrato muito pessoal desse estilo.