(Uma versão da resenha abaixo foi publicada originalmente em A TRIBUNA de Santos em 12 de junho de 2018)
Nana é um gato de rua. Após ser atropelado, é recolhido por Satoru Miyawaki. Cinco anos depois seu dono resolve atravessar o país numa van, pretendendo desfazer-se do gato. Este é o núcleo de “RELATOS DE UM GATO VIAJANTE”.
“—Você está me unhando! Nana, pare de arranhar minha testa! Não adiantou, este posto não me deu a segurança necessária. Iáááá! Pulei para o chão e desembestei na direção oposta às ondas, sem olhar para trás. – Ah! Nada! Galguei num piscar de olhos um barranco próximo e me encarapitei na raiz de um pinheiro que se projetava da superfície de pedra, na diagonal! Pronto! Verificação de segurança concluída com sucesso! ”. Esse é o momento em que Nana conhece o mar.
O charme do romance de Hiro Arikawa seria uma narrativa feita pelo ponto de vista de Nana. Quando acontece, o texto ganha muito. Infelizmente, a autora trapaceia com o leitor. Por exemplo, uma pousada para pets onde o dono de Nana pretende deixá-lo é descrita com detalhes, ficamos conhecendo seus proprietários, amigos de Satoru (aliás, a viagem é um reencontro com pessoas com nas quais tem laços afetivos).
Seria bem mais interessante e menos óbvio que conhecêssemos a pousada e o casal através do ponto de vista de Nana. Do jeito como está, tudo fica mastigadinho para o leitor. Os diálogos são tão pueris que me senti com 13 anos ao lê-los. Mas toda as restrições críticas caem por terra quando aparece Noriko, tia de Satoru, e o quebra-cabeça se completa. Aí o romance vira emoção pura. Devo ser um leitor piegas por que chorei em todas as páginas nas quais Nana volta a morar na rua, porém não há nenhuma apelação sentimental, por parte da autora japonesa.
Por que será que as histórias com bichos mexem tanto com a gente?