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(aqui estão reproduzidas algumas das resenhas escritas por mim sobre obras de Graham Greene ao longo dos anos e publicadas em “A Tribuna” de Santos)

Resenha publicada em A TRIBUNA de Santos, em 18 de janeiro de 1994:
Reflexões é um daqueles constrangedores produtos da decrepitude ou pós-morte de um autor importante, quando se fuça seus rabiscos e publica-se até a caderneta da padaria e a cartilha do beabá? Sabemos o quanto de lixo isso nos trouxe de Pessoa e Drummond, por exemplo, esse culto necrófilo e/ou mercenário das sobras…
Muitos textos dessa coletânea de textos circunstanciais escritos ao longo de décadas por Graham Greene (1904-1991) ou são curtos, abruptos e vagos demais ou são francamente ruins e juvenis no pior sentido. Há lugares comuns indefensáveis, como no tributo a Jorge Luis Borges, “espantou-me a expressão daqueles olhos cegos. Não pareciam cegos. Era como se estivessem olhando para dentro de si mesmos”!!!!
O leitor deve dar preferência mesmo ao ficcionista extraordinário, que nos deixou contos memoráveis, um trio de romances geniais (Brighton Rock- O condenado, de 1938; O Poder e a Glória, de 1940; The heart of the matter- O cerne da questão, de 1948), além de obras como Fim de Caso, O Cônsul Honorário, Viagens com minha tia, O fator humano ou Monsenhor Quixote, para citar algumas, que aguardam uma reavaliação para se conferir se não estão no mesmo patamar. Sem falar nos dois fundamentais depoimentos autobiográficos, Quase uma vida e Pontos de fuga.
Mesmo assim, há algo de instigante em Reflexões, pela revelação que faz da ética pessoal de Greene. Escrevendo sobre a Alemanha e a França pós-Primeira Guerra (e prevendo, com acerto, aos vinte anos, a segunda), sobre a Indochina, o Haiti, Cuba, Paraguai, Chile, Conan Doyle, sebos, cinema (artigos marcantes sobre este assunto, afinal ele foi crítico cinematográfico por anos), acaba nos esclarecendo um pouco porque foi o romancista que ampliou a consciência mundial da literatura, que deu sentido à frase lapidar de Joan Didion (no seu belíssimo romance Democracia): “ninguém está isento do movimento geral”; e, ao mesmo tempo, mostrou dilemas psicológicos tão intimistas e intrincados. No seu entender, o que acontece em Phat Diem ou o que ocorreu em 1597 com católicos ingleses coloca a todos nós em questão.
Por isso, o mais perturbador de todos os textos de Reflexões é “A virtude da deslealdade”: “Sempre foi conveniente aos interesses do Estado envenenar os poços psicológicos, estimular vais, limitar a solidariedade humana. Não será tarefa do contador de histórias agir como advogado do diabo, provocar simpatia e uma certa compreensão para com aqueles que estão fora dos limites da aprovação do Estado? (…) Ele representa as vítimas, e as vítimas mudam. A lealdade nos confina às opiniões aceitas, a fidelidade nos proíbe de compreender, de maneira solidária, os nossos companheiros dissidentes; a deslealdade, porém, nos estimula a penetrar qualquer mente humana”.
Realmente, esse é o espírito que sopra sobre as águas da obra de Greene. Não foi por acaso que ele pôde escrever Monsenhor Quixote, romance definitivo sobre a equação ideologia e individualidade (não confundir com individualismo).

Resenha publicada em A TRIBUNA de Santos, em 9 de janeiro de 1996:
Em A última palavra, coletânea de 12 contos, há duas histórias da Segunda Guerra: “As notícias em inglês” e “O tenente morreu por último”. Em ambas, dois solitários são o pivô dos acontecimento: uma mulher cujo marido é considerado por todos (a mãe, inclusive) um traidor, e que carrega consigo o peso de saber a “verdade”; um caçador ilegal que salva um daqueles típicos povoados ingleses (eles se tornaram quase míticos, após tantos filmes e livros, está aí Mrs. Minniver-A rosa da esperança, de William Wyler, que não me deixa mentir) de uma invasão alemã.
Como são dois textos de alto nível, possuem outros aspectos que poderiam ser explorados, mas esta resenha insistirá na impressionante maneira como a solidão ecoa de uma ponta a outra, dando notável unidade e coerência a essa reunião de “filhos pródigos” do autor de The heart of the matter- O cerne da questão. São contos que ele deixou de lado e dos quais, salvo engano, apenas “O bilhete de loteria”, um dos melhores, já fora publicado no Brasil, em outra tradução, pela editora Agir (em 1959, na coletânea Contos, cujos 18 integrantes foram meu primeiro contato com o Greene contista).

A própria história-título, que abre o livro, com um tom que parece ter saído dos versos de T.S. Eliot, aqueles do final de A terra arruinada, que nos falam do fim do mundo como evento mais melancólico que apocalíptico, mostra um solitário: o último papa, desmemoriado após um atentado e o qual, já não possuindo seguidores e não representando mais uma ameaça (ou seja, não podendo tornar-se mártir), é executado por um compadecido inimigo.
Em “O momento da verdade”, um garçom descobre-se condenado pelo câncer e deposita toda esperança de solidariedade e simpatia num casal de fregueses americanos, freqüentadores por alguns dias do restaurante.
Restaurantes também são os lugares onde passa a vida o espião de “Uma divisão do serviço”, uma das inúmeras brincadeiras de Greene com o serviço secreto britânico, para o qual trabalhou e que adorava espicaçar. Já nesse conto a solidão se reveste de um ridículo atroz, explorado também em “Assassinato pelo motivo errado”, no qual aparece um personagem freqüente na ficção greeniana, o assassino recalcado e inseguro. Basta lembrar A gun for sale- Assassino de aluguel e do inesquecível Pinkie da obra-prima Brighton Rock- O condenado.
Outros que não escapam da ironia do grande autor inglês são os turistas, basta ler “O homem que roubou a Torre Eiffel”. Na verdade, só existem dois textos realmente fracos em A última palavra: “A casa nova” e “Uma obra inacabada”.
O que sobressai do conjunto é uma visão da sociedade em que todos estão abandonados à própria sorte, uma sociedade que torna cada verdade pessoal paródia de si mesma, uma sociedade em que as pessoas dedicam-se por anos a atividades miseráveis e incompreensíveis (os espiões durante a Guerra Fria, por exemplo). Enfim, um mundo que os críticos costumam chamar de greeneland (ele brinca com isso em Ways of escape- Pontos de Fuga, depoimento sobre a feitura das suas obras) e que nada mais é do que o mundo globalizado, um mundo que ele soube intuir e retratar de maneira magistral.
Resenha publicada em A TRIBUNA de Santos, em 17 de junho de 2003

Com relação ao centenário do nascimento de Marguerite Yourcenar comentei que seu livro Golpe de Misericórdia (1939) era apreciado até mesmo por quem não gostava muito da obra da escritora belga. Isso acontece também com Brighton Rock- O Condenado, que geralmente sai ileso das críticas mais pesadas feitas a Graham Greene (de ser um autor convencional, comercial, para consumo da classe média, etc).
Ele está sendo apresentado numa edição que se apresenta como “revista”, embora ainda utilize como base uma velha tradução de Leonel Vallandro, igualmente utilizada em Portugal (como A inocência e o pecado), e que é muito boa, só ficou anacrônica no quesito gíria, já que o romance se passa no submundo e nos meios populares. E também há o problema do aportuguesamento dos nomes próprios. Eu costumava me irritar com a aportuguesada Rosa (a personagem-chave do enredo) e fiquei feliz ao vê-la se tornar uma legítima e inglesa Rose. Mas parece a dose foi demasiada e o remédio só piorou a doença: uma sucessão de palavras incorporou o Rose reconquistado. O leitor conhece uma polícia vagaRose? Pois aparece na página 152. E há um vagaRosemente tanto na 205 quanto na 296. Temos doloRosemente (155,283,336), doloRose (190,279, 317), rancoRose (200), tenebRosemente (218), tenebRose (283, 295), indecoRosemente (291), prazeRosemente (239), temo “Roses, roses, roses, por todo o caminho” (234), ficamos sabendo que a vida não é cor-de-Rose (220), que “nem tudo são Roses” (270)!!???!!
Será que estamos diante da versão Finnegans Wake de O condenado? A revisão é tão malfeita que fica faltando uma frase num diálogo entre Pinkie, o protagonista (vivido de forma memorável no cinema pelo então ótimo ator e agora soporífero cineasta Richard Attembourough), e Spicer, o comparsa que ele acabará por assassinar (“Para lá? Que está querendo insinuar?”, o leitor NÃO encontrará na página 136), além de metade da frase “Que não foi vocês sabem quem”, na página 159; além disso, dividiram em dois parágrafos uma fala importantíssima de Pinkie (numa conversa com Rose, quando tenta incitá-la ao suicídio), na página 311, truncando-a e quase a tornando incompreensível. Haveria muito mais a dizer. Paremos por aqui. Edição “revista” !!! é esse o respeito que as editoras brasileiras têm pelos seus leitores (ou vítimas).


É uma pena que a obra-prima de Greene chegue aos brasileiros tão desfigurada: quando a publicou, em 1938, ele estava apenas com 34 anos e já escrevera alguns romances talentosos: o geralmente subestimado, até pelo próprio autor, Expresso do Oriente, Um campo de batalha, Bela e querida Inglaterra, Assassino de aluguel. Chegara, entretanto, a hora da genialidade na história do gangsterzinho de 17 anos, Pinkie, o Garoto, cuja quadrilha disputa com mr. Coleoni o faturamento do submundo das apostas em corridas de cavalo na cidade balneária de Brighton. Eles assassinam um jornalista, Hale, o qual (para azar deles), antes de ser apanhado, procurou refúgio nos braços de Ida Arnold, mulher de “implacável vitalidade” e que partirá para uma insólita retaliação. Dela se diz “não havia lugar no mundo onde se sentisse forasteira”, “não havia nada a que se sentisse alheia”, “somente aquelas trevas em que se movia o Garoto lhe eram estranhas. Não tinha piedade com aquilo que não compreendia”.
Para escapar da forca, o Garoto resolve se casar com a única testemunha que sobrou do caso Hale, a garçonete Rose. Tanto ele quanto ela são católicos. Como também são menores, casam-se por meio de uma artimanha legal apenas no civil, caindo no mundo do pecado mortal segundo as leis da igreja (e é bom levar a sério esse conceito de pecado mortal, leitor, pois é essencial ao romance). Começa, então, a disputa entre Pinkie e Ida (“essa mulher nem sabe o que é um pecado mortal”) pela alma de Rose, que revolucionará a trama noir e transformará Brighton no palco temporário do Inferno.
ADENDO DE 2010-André de Oliveira Lima editor atual de literatura da Globo, entrou em contato comigo e gentilmente me enviou um exemplar da reimpressão de O condenado (de 2006) onde esses erros todos foram corrigidos.
Resenha publicada em A TRIBUNA de Santos, 24 de junho de 2003

Depois de comentar os imperdoáveis erros da nova edição de O condenado, de Graham Greene,, é preciso falar mais a respeito do livro, obra-prima de um autor cuja popularidade não parece dar sinais de arrefecer, como mostram as contínuas adaptações cinematográficas: tivemos, há pouco tempo, uma surpreendente e brilhante versão de Neil Jordan para Fim de Caso (a qual deu ensejo para a alta inspiração de Julianne Moore e Stephen Rea como intérpretes de Sarah e seu marido Henry); no ano passado, Philip Noyce refilmou O americano tranqüilo, com o grande Michael Caine (que já havia sido um fantástico personagem-título na adaptação de O cônsul honorário).
Como já se comentou aqui, o protagonista de O condenado, Pinkie, vulgo o Garoto, é um gangsterzinho de 17 anos, um “pequeno ditador”, que carrega sua “cruel virgindade”, assumindo a liderança de uma quadrilha no submundo das corridas de cavalo em Brighton, especialmente após a eliminação do jornalista Hale. Para não correr riscos, Pinkie resolve casar-se com a única testemunha que pode ligá-lo a Hale, a garçonete Rose, católica e menor de idade como ele.
Casam-no civil, porém o sentimento de pecado mortal (por não se sacramentar o matrimônio na igreja) assombra o casal, “na sombria teologia em que os dois estavam absortos”.
Uma das raras coisas boas da edição da Globo é o prefácio de Marcelo Pen, onde se fala do livro como “thriller metafísico”. De fato, é como se fosse um enredo policial ao estilo de um Borges ou de uma Clarice Lispector. Por um curioso erro de percepção, Greene achava que a base policialesca da intriga (a Primeira Parte, com a perseguição de Hale) deveria ter sido cortada quando o romance tomou sua feição final. É o que se lê em Pontos de fuga: “As primeiras 50 páginas são tudo o que resta da história policial. Iriam irritar-me, se eu ousasse examiná-las agora, pois deveria ter tido a força de vontade suficiente para retirá-las, e começar a história outra vez, por mais difíceis que se tornassem as revisões, com a agora chamada Segunda Parte.”
O problema é que a desprezada Primeira Parte é incrível: tudo está lá, todas as linhas de força do romance, a partir da inesquecível frase inicial (“Ainda não fazia três horas que Hale estava em Brighton quando compreendeu que pretendiam assassiná-lo”); aliás, poucos livros podem se gabar de começar de forma tão inspirada, e terminar com uma frase mais perfeita ainda, se possível (“Rose caminhava rapidamente, no leve sol de junho, ao encontro do maior de todos os horrores”).



Outro inacreditável erro de avaliação de Greene é justamente com relação a Rose. Para ele, era uma de suas personagens que não conseguiram adquirir vida, que só estão ali por causa da trama. Pois bem, Rose é a grande personagem, a alma de O condenado, bem mais do que o próprio Pinkie ou sua oponente, Ida Arnold. Rose está para Graham Greene como Macabéa para Clarice Lispector: a mesma nulidade social, o mesmo desamparo existencial, a mesma qualidade patética de “ser” com tão pouco, de tirar tanto de nada. Nos momentos em que Rose está no centro do palco, o estilo de Greene chega ao auge.
E por falar em estilo, há determinadas imagens insólitas que parecem Faulkner (é só pegar Santuário). É o caso de uma caracterização do advogado, mr. Prewitt, responsável pelos arranjos para o casamento (e que tem perfeita consciência da situação de todos, ao citar Fausto: “O inferno é aqui e nós estamos dentro dele”; de passagem, há até um detalhe bobo e dispensável para indicar isso: o número do telefone da pensão de Pinkie é 666): “A expressão de simpatia não lhe assentava; tinha-se a impressão de que era possível despegá-la dos seus olhos, como etiqueta colada pelo leiloeiro num antigo instrumento de sílex”. Parece Faulkner (que justamente publicava suas grandes obras por essa época), mas a semelhança é devida a uma influência comum a ambos: Joseph Conrad. Pois o coração das trevas tanto fica em Brighton quanto no Mississipi.
Resenha publicada em A TRIBUNA de Santos, em 16 de março de 2004

Há algum tempo, Caetano Veloso cantava que o Haiti era aqui. Em 1966, Graham Greene mostrou-se mais profético ainda ao escrever em Os farsantes o seguinte trecho: “O Haiti não era uma exceção num mundo sadio: era uma pequena fatia do dia a dia tomada ao acaso”.
Quase quatro décadas depois, com o estado das coisas no Brasil e no mundo, e depois da intervenção totalitarista dos EUA exilando de forma sumária um chefe de estado, o lançamento do romance pela Globo torna-se mais relevante, embora não seja uma das obras mais citadas do grande escritor inglês, cujo centenário de nascimento se comemora este ano.
Felizmente, não temos uma edição “revisada” ao modo desastroso de O condenado. Mesmo assim, alguns problemas persistem. O título, por exemplo. Talvez fosse melhor manter a solução da antiga versão de Brenno Silveira, um literal Os comediantes (para The comedians), uma vez que as ligações entre os personagens são metaforizadas sob a forma da atuação (o que deixa indignada a protagonista feminina, que se recusa a ser vista como alguém que está “representando um papel”, como admitem cinicamente –ou seria resignadamente?—seus companheiros). O único problema no caso é que o termo comediante está associada em nossa língua aos papéis cômicos, e aqui teria de ser estendido à comédia humana que nos envolve a todos. “Farsantes” ou seu correlato “impostores” diminuem muito o alcance da metáfora.
Há lapsos na revisão: na página 37, o sr. Smith diz que nem ele nem a esposa (ambos, personagens antológicos) são pessoas “que tenham prazeres moderados” (e é justamente o oposto); na página 79, a frase “quando penso em todo aquele desperdício na Broadway” é atribuída a Martha, amante do narrador e protagonista, Brown, e é a mulher que se recusa a ser uma “comedian”, comediante ou farsante (na burocrático e sonífera versão de Peter Glenville eles serviram de veículo para mais uma reunião do casal Elizabeth Taylor e Richard Burton), quando na verdade é dita pela sra. Smith (que, no filme, era a lendária Lílian Gish); na página 112, Brown afirma que “tinha razão para se preocupar” e deveria ser o contrário (naquele momento, ele não tinha razão nenhuma para ficar preocupado, o que será ironicamente desmentido pelos acontecimentos); enfim, volta e meia esbarramos nalgum enguiço. No geral, entretanto, a tradução é boa.


Depois de Fim de caso (1951), Greene afeiçoou-se às narrativas em primeira pessoa. Em The comedians, Brown é o cidadão de nacionalidade inglesa (embora de origem duvidosa) que mantém um hotel de luxo em Porto Príncipe, abandonado pelos turistas quando a violência da ditadura de Papa Doc e dos tontons macoutes se torna mais virulenta. Ele é mais dos estrangeiros envolvidos em situações locais no mapa da Greenelândia (no México, em O poder e a glória; na África, em O coração da matéria; bi Vietnã, em O americano tranqüilo; em Cuba, em Nosso homem em Havana; no Paraguai, em O cônsul honorário), embora talvez seja o menos ilustre, talvez porque aqui o autor se mostre um tanto cansado. Além disso, ele persiste numa certa sátira aos americanos tranqüilos, ou “inocentes”: o casal Smith chega ao Haiti no mesmo navio de Brown e Jones (este, o mais enigmático e ambíguo dos “comedians” da trama) e hospedam-se no hotel do primeiro. Sua meta: convencer o governo haitiano das vantagens do vegetarianismo, o qual consumiria as paixões humanas.
Humanitário, progressista, otimista, o casal comove Brown e o leitor, escapando do ridículo por causa da sua integridade e bravura quixotesca, ainda que ineficazes e até inconvenientes, quando se opõem às situações de arbítrio e opressão que por acaso testemunham, como o seqüestro, a caminho do velório, do corpo de um ministro que se matou (à beira da piscina do hotel de Brown) ao figurar como persona non grata do regime: “numa ditadura, as pessoas não são donas de nada, nem de um marido morto”.
Parece que hoje em dia as coisas ficaram piores. As pessoas não são donas nem de um presidente em exercício. Ele pode ser levado a qualquer momento.
