Sempre tive a suspeita de que Stephen King adora ser mal adaptado para o cinema e especialmente para a televisão, que ele se compraz com aquelas produções de segunda ou terceira categoria, que valorizam seus textos por tabela. Mas ao longo de seus 40 anos de carreira, algumas produções escaparam dessa sina de trash inspirado em Stephen King. É o caso de:
1– THE SHINING-O ILUMINADO (1980) – Como sou um kubrickiano apaixonado, ninguém se surpreenderá quando coloco este como a maior das adaptações de King para o cinema. Li o romance, que tem uma construção de atmosfera genial (além do argumento) e uma solução pífia, e acho que Kubrick traduziu de forma indelével o que ele tem de melhor. Entre tantas, a cena em que Shelley Duvall sobe a escada com um taco de beisebol, sendo ameaçada-espicaçada-ridicularizada por Jack Nicholson, não tem igual. Os dois intérpretes estão além do além.
2-CARRIE (1976) Uma das obras-primas de Brian de Palma, e certamente um dos duelos (ou duetos) de interpretação mais impressionantes do cinema, entre Sissy Spacek e Piper Laurie. Não gosto da mão do final que agarra a boazinha Amy Irving (ainda mais por se tratar de um mero pesadelo), mas o filme como um todo é tão poderoso que acaba sendo um detalhe (apelativo, sem dúvida).
3-O NEVOEIRO (2007)- Terrível e acachapante alegoria distópica sobre a paranoia da era Bush, o melhor dos filmes que Frank Darabont realizou a partir da obra de King.
4-ZONA MORTA (1983)- Uma das mais sóbrias e austeras adaptações feitas a partir de King, o que não deixa de ser surpreendente, afinal o grande David Cronenberg, principalmente à época, não era dado a concessões de nenhum tipo. O resultado é belo, de todo modo.
5- THE SHAWSHANK REPEMPTION- UM SONHO DE LIBERDADE (1994)-Afora a incursão solitária de alguns grandes cineastas, talvez Frank Darabont tenha sido o diretor que melhor traduziu o universo de King nas telas. Aqui ele constrói um misto peculiar de Frank Capra com George Romero, numa bela fábula de amizade e redenção.
6-CHRISTINE (1983)- Não dá para levar a sério o argumento (carro obcecado pelo dono), mas o mérito nada desprezível do grande John Carpenter foi criar uma atmosfera cinematográfica que faz com que esqueçamos qualquer lógica e bom-senso e sejamos conduzidos pelos acontecimentos da história.
7-DOLORES CLAIBORNE – ECLIPSE TOTAL(1995)- O diretor, Taylor Hackford, geralmente é medíocre, mas que história sensacional, e como a dupla Kathy Bates e Judy Parfitt está genial (tem a Jennifer Jason Leigh, também, claro).
8-A METADE NEGRA (1993)- O título nacional deveria ser “A metade sombria”, bem mais preciso. O elegante filme de George A. Romero, além da categoria do diretor, tem o atrativo extra de ter o talentoso Thimothy Hutton no papel principal. King abusou um pouco da figura do escritor como protagonista, mas é um de seus argumentos mais engenhosos (depois, uma variação seria levada ao ridículo em “A janela secreta”).
9- MISERY-LOUCA OBSESSÃO (1990)- Outro diretor “do doce”, Rob Reiner (nem Conta comigo me entusiasma particularmente, embora muito bonitinho e tal) , e acho o final horroroso e apelativo, entretanto a encarnação da protagonista por Kathy Bates é um capítulo à parte na história das adaptações cinematográficas de King.
10- THE LANGOLIERS-FENDA NO TEMPO (1995)- De todas as inúmeras minisséries feitas para a tevê (e assisti a várias) a partir de livros de Stephen King, essa (dirigida por Tom Holland) sempre me pareceu a melhor, a que melhor aproveita (há que se ter boa vontade com relação aos efeitos visuais) o argumento e situações engenhosas do autor.
Ocorrem-me outros (poucos, é verdade) bons filmes, como O aprendiz, de Bryan Singer, ou Lembranças de um verão, de Scott Hicks, mas fiquemos na magia do número 10. Sei que alguns vão lembrar de Cemitério Maldito, mas por favor! Também nunca consegui suportar À espera de um milagre. O caso de IT (1990) é mais complicado: Como vários romances tão talentosos de King, este filme de Tommy Lee Wallace, a partir de A Coisa, é muito mal resolvido em vários aspectos (por exemplo, os efeitos visuais da parte final). Mas quem pode negar que a atmosfera da cidade pequena e a ligação, infantil e adulta, entre os personagens, é magnífica (além disso, como tenho horror a palhaços, me identifico totalmente com a história)? E no final, o resultado supera o melhor realizado em termos de efeitos O apanhador de sonhos (2002), mau momento de Lawrence Kasdan.
VER TAMBÉM NO BLOG:
https://armonte.wordpress.com/2013/11/26/destaque-do-blog-novembro-de-63-de-stephen-king/
https://armonte.wordpress.com/2013/11/19/sob-a-redoma-e-a-maturidade-de-um-mestre-stephen-king/
nota- só coloquei a capa dos livros de King (e nas edições) que li.