MONTE DE LEITURAS: blog do Alfredo Monte

09/08/2012

A(s) existência(s) de Joseph Knecht: o chamado da vida e a sabedoria

PRIMEIRA PARTE

 “O coração

A cada chamado da vida deve estar

Pronto para a partida e um novo início

Para corajosamente e sem tristeza

Entregar-se a outros, novos compromissos.

Em todo começo reside um encanto

Que nos protege e ajuda a viver…”

O trecho é de um dos poemas de Joseph Knecht (cujo sobrenome significa servidor), protagonista de O JOGO DAS CONTAS DE VIDRO (Das Glasperlenspiel, 1943, traduzido pela dupla Lavínia Abranches Viotti & Flávio Vieira de Souza), de Hermann Hesse (1877-1962), que está saindo numa nova edição pela Record, aparentemente “revisada” (é o que alardeia a editora). Durante anos, eu esperei por esse acontecimento, uma vez que sendo ótima, antológica, essa tradução vinha há anos (desde sua publicação original pela Brasiliense) sendo reimpressa com vários erros, além de apresentar de cara um detalhe problemático: a transcrição dos nomes próprios: basta dizer que abrasileiraram Joseph Knecht para José Servo!

Entretanto, na nova edição a capa continuou muito feia e poluída, os nomes próprios aparecerem grafados de forma discrepante ao longo do livro (vai ver só se deram ao trabalho de revisar o começo, afinal é um livro muito extenso), e vemos Johann Sebastian Bach virar João Sebastião Bach. Knecht continua Servo. Há omissões evidentes de palavras, trocas (doença por dança, táticas por tácitas, etc) e efetuaram uma divisão de parágrafos no mínimo suspeita. Só aqui e ali se constata uma efetiva e salutar revisão, como a mudança de Livro das Metamorfoses, como antes aparecia, para o título em uso na atualidade, Livro das Mutações, para designar o I-Ching. Só que é muito pouco para um romance dessa importância e para um lançamento caro.

O JOGO DAS CONTAS DE VIDRO é a obra máxima de Hesse e sintetiza sua filosofia de vida (principalmente pós-Demian): trata-se de uma apologia do que ele chama “despertar”, no sentido dos versos que abrem este artigo. No romance, por causa das guerras do século XX (chamado de era do folhetim) houve uma mudança global. Criou-se uma província pedagógica, aparentemente utópica, a Castália, para preservar os valores culturais verdadeiros! Lá são cultuadas a Matemática, a Música, a Astronomia, e também o Latim. A ciência e a arte são manipuladas através de uma prática esotérica e misteriosa, o Jogo de Avelórios.

O narrador se resolve a contar a vida de Knecht a partir de sua indicação como um dos eleitos para viver na Castália, quando menino e órfão, de origem obscura. Ele se tornará, malgrado uma certa atitude outsider (vive um tempo com um sábio especialista na língua chinesa e no I-Ching), o Magister Ludi (Mestre do Jogo), porém romperá com o mundo da Castália e preferirá tornar-se um mero preceptor no mundo secular (há, porém, um final abrupto e estranho, logo no início da sua nova vida, perto dos 50 anos): “o seu caminho tinha seguido um círculo, uma elipse ou espiral, ou uma trajetória qualquer, menos uma linha reta, pois é evidente que a linha reta pertence apenas à geometria e não à natureza ou à vida”.

Por que Knecht abandona Castália? Porque, antes de ser eleito Magister Ludi, viveu alguns anos como emissário da província num mosteiro beneditino e enfronhou-se no estudo da História (uma disciplina desprezada pelos seus confrades) com o Padre Jacobus, grande personagem que homenageia o historiador Jacob Burckhardt, assim como Thomas van der Trave, o Magister Ludi anterior à Knecht, nos reporta a Thomas Mann (nos anos em que escreveu o livro, Hesse acompanha também o desenvolvimento de José e seus irmãos, conforme podemos ver pela correspondência trocada entre os dois amigos, e por isso nada nos impede de ver no próprio nome Joseph/José, e na sua trajetória, que combina momentos de obscuridade e momentos de glória, descenso e ascensão, uma alusão ao herói bíblico da tetralogia, que foi completada com José, o provedor, publicado no mesmo ano de O JOGO DAS CONTAS DE VIDRO, embora as associações na obra de Mann sejam mais procuradas noutra obra dessa fase tardia, Doutor Fausto, de 1947).

Conhecendo melhor História (“estudar História significa entregar-se ao caos, conservando a crença na ordem e no sentido”), Knecht se dá conta de que Castália está encastelada numa existência alienada. Apesar de sustentada pelo mundo secular, procura se manter longe das lutas quotidianas e das grandes questões mundiais. Hesse faz, assim, uma contundente acusação à cultura humanística do seu tempo que não soube incorporar a práxis histórica, e se transformou numa cultura de especialistas. E que, no caso alemão, deu espaço para o nazismo e foi derrotada por ele.

(resenha publicada originalmente em A TRIBUNA de Santos em 29 de abril  de 2003)

SEGUNDA PARTE

  Na seção anterior comentei os pontos discutíveis da nova edição  “revisada” de O JOGO DAS CONTAS DE VIDRO, e também o plano geral da obra e seu “corpo” principal, a biografia do protagonista, Joseph Knecht, o qual, após tornar-se o Magister Ludi, abandona a província pedagógica onde o jogo do título é praticado.

Em Sidarta (1922), o narrador nos diz que o herói do livro teve a percepção do que, na verdade, significa a sabedoria: “Nada era a não ser a predisposição da alma, a faculdade, a arte secreta de conhecer a cada instante em plena vida a idéia de unidade, de sentir a unidade, de encher dela os pulmões”.

Essa é a tônica das três belíssimas histórias que complementam O JOGO DAS CONTAS DE VIDRO, além da história principal (que termina de um modo estranho, como se Hesse não tivesse a energia para inventar uma vida para Knecht pós-Castália) e de um conjunto de poemas.

São três possibilidades de reencarnação de Joseph Knecht, uma no período pré-civilizatório (O conjurador da chuva), outra nos primeiros tempos do Cristianismo (O confessor) e outra numa Índia atemporal (A encarnação hindu). Não é à toa que o livro se fecha com esta última, uma vez que é no pensamento oriental, com sua consciência da impermanência e transitoriedade de tudo (e mesmo assim uma noção de unidade, e não de fragmentação), que Hesse encontra saída para o impasse da razão ocidental, para sua tendência à petrificação e perpetuação.

Mais ainda, todos os caminhos para o despertar individual só podem ser experimentados, jamais ensinados ou doutrinados. Sabedoria que encontra eco num dos filmes mais importantes do nosso tempo, Matrix, no qual Morfeus diz a Neo, o Escolhido, “cedo ou tarde você vai perceber, como eu, que há uma diferença entre conhecer o caminho e percorrê-lo”.

      Em O conjurador da chuva, Knecht é uma espécie de feiticeiro de uma tribo (cuja linha de poder é matriarcal). Sua função: dominar fenômenos da natureza para propiciar a colheita e a prosperidade da aldeia; caso contrário, seu destino é a imolação. É magistral a maneira como Hesse nos mostra Knecht-conjurador (apesar de guiado “mais pelos sentidos do que pelo intelecto”) como ancestral da pesquisa científica, embora algo tenha se perdido pelo caminho: “…aspiravam à mesma meta da ciência e da técnica dos milênios posteriores, ao domínio da natureza e ao manejo de suas leis”, entretanto “não se separavam da natureza nem tentavam descobrir seus segredos à força, nunca se contrapondo a ela ou lutando com ela. Continuavam parte integrante da natureza, com inteira e devota entrega de si próprios”. É assim que se pode fazer jus à condição de conjurador do tempo: “Em períodos de puríssima concordância e harmonia anímica, ele trazia no seu íntimo o tempo dos próximos dias, com exatidão e sem perigo de erro, prevendo-o como se trouxesse no sangue a partitura a ser tocada lá fora”.

O confessor, por sua vez, ao discutir o problema da alteridade, quase nos coloca no universo de Borges (assim como um os poemas de Knecht, Um sonho, no qual um bibliotecário vai desfazendo o que se lê nos livros catalogados). Dos três, é o meu favorito pessoal, e um dos supremos momentos de Hesse. Mostra como um latinizado Knecht (Joseph Flamulus), anacoreta do deserto que ouve sem julgar os pecados dos penitentes, cansa-se da sua condição e resolve procurar Dion, outro confessor, o qual age de forma oposta, anatematizando os penitentes. E é o suposto confessor rabugento que dirá para Flamulus as seguintes e inesquecíveis palavras, das quais Dostoievski teria orgulho: “Nós é que somos pecadores propriamente, nós que sabemos e pensamos, que comemos da árvore do conhecimento (…) não somos nunca inocentes, somos pecadores perpétuos, morando no pecado e no incêndio de nossa consciência (…) Nós não estamos nos ocupando deste ou daquele desvio ou prevaricação, mas continuamente com a própria culpa original. Por isso é que um de nós só pode assegurar ao outro que está a par do que se passa e que o ama como irmão”. Hesse já criara, em 1930, uma elegante e bela coincidentia oppositorum, em Narciso e Goldmund, um dos seus melhores livros. De qualquer forma, quem ler a narrativa, verá que solução genial é encontrada para o dilema de Flamulus.

A encarnação hindu distingue-se de Sidarta porque o personagem não é um buscador da Verdade, dedicado à procura do sagrado e do divino. Pelo contrário, é nas fímbrias do sagrado que o personagem principal, Dasa, vai vivenciar o Maia, a vida ilusória que tomamos como realidade, antes de se tornar servidor de um sábio iogue, cuja presença permeia sua vida, a qual oscila entre a glória e a desgraça: “de súbito todos os longos anos que vivera, os tesouros que guardara, as alegrias que gozara, as dores sofridas, o medo que sentira, o desespero que atingira as raias da morte, eram-lhe tirados, apagados, transformados em nada—e no entanto não se extinguiam! Pois a recordação permanecera, as imagens haviam ficado dentro dele….”Moral: mesmo perseguindo a transcendência, não se pode desembaraçar-se da experiência.

(resenha publicada originalmente em A TRIBUNA de Santos, em 06 de maio de 2003)

07/08/2012

Leitura em espelho: DOUTOR FAUSTO e O JOGO DAS CONTAS DE VIDRO

  

                           I

(resenha originalmente publicada em A TRIBUNA de Santos, em 8 de outubro de 1996)

A tradução de Herbert Caro para Doutor Fausto talvez tenha sido o grande acontecimento literário nos anos 80, quando saiu pela Nova Fronteira[1]. Agora que o livro está para comemorar 50 anos (em 1997), não custa nada uma revisão dessa reatualização da lenda do homem que faz pacto com o Diabo. Na versão de Thomas Mann, o tentador propõe ao músico Adrian Leverkühn vinte e quatro anos de genialidade. A “apropriação” da alma de Leverkühn começou ao contrair sífilis com uma prostituta, doença que degenerará em loucura irremediável, tal como Nietzsche. Como se sabe, o grande filósofo teve suas idéias encampadas e deformadas pelo nazismo, graças à sua irmã. E o destino de Leverkühn, tão semelhante, espelhará o destino da Alemanha, que mergulha em duas guerras.

Tudo nos é contado por Serenus Zeitblom que, em meio à Segunda Guerra, propõe-se a escrever a biografia de Adrian.  Como ele mesmo afirma, “minha vida pessoal sempre se me afigurou apenas secundária, e sem que propriamente me descuidasse dela, vivia-a distraído… ao passo que minhas verdadeiras diligências, tensões e preocupações se dedicavam ao bem-estar do amigo da infância”.

Portanto, de imediato salta aos olhos o aspecto de alegoria poderosa da Alemanha rumo à loucura nazista, ainda mais pelo seu mergulho nas raízes luteranas presentes na mentalidade germânica, ao ambientar boa parte da história em cidades saturadas de passado como Halle, Leipzig e Kaisersaschern (onde tudo tem início). Mas há um lado ainda mais instigante em Dr. Fausto: a discussão do problema da arte contemporânea que, por extensão, afeta a própria forma do livro.

Leverkühn tem especial predileção pela paródia. Atualmente, todas as manifestações artísticas estão impregnadas por ela ou pelo seu primo pobre, o pastiche. Dentro da narrativa, discute-se incessantemente se a função genuína da arte não se esgotou e se ela não somente, e isso nos melhores casos, crítica e recombinação paródica das formas passadas. Além disso, discute-se o problema da arte como jogo e diversão ou como forma de conhecimento, ambição dos maiores artistas do século XX. Como romance enciclopédico que é, Dr. Fausto assume essa oscilação e, entre todo o anedotário da narrativa, o leitor passa por discussões sobre teologia, ética, física, astronomia, biologia, sociologia, economia e por aí vai.

Isso não deve assustá-lo, leitor. O próprio Mann revoltava-se contra os que acham árdua a leitura, ou mesmo ilegível a obra. Em carta ao seu editor afirmou, com razão: “O livro não é um tratado insuperavelmente difícil e sim, pelo menos em parte, um romance que entretém e até mesmo emociona. Não seria certamente desejável que o público ficasse atemorizado”.

Quem avançar no texto observará que ele vai se tornando cada vez mais “narrativo” e dinâmico na parte final, ao contar o destino das várias pessoas ligadas a Leverkühn, trazendo, aliás, muitos elementos autobiográficos (a vida das irmãs de Mann,  por exemplo).

E num romance tão extraordinariamente construído, onde um fato aludido em determinado ponto (como as formas híbridas de vida que aparecem no começo) vai ganhar pleno significado mais adiante, Mann também não deixa de espelhar sua obra. Há a decadência da burguesia e a oposição entre esta e o mundo artístico e boêmio (como em Buddenbrooks & Tônio Kröeger), o episódio italiano desagregador (como em Morte em Veneza e Mário e o mágico), aliás uma suprema ironia uma vez que é na Itália, a pátria do humanismo clássico, que Leverkühn tem sua entrevista com o Diabo e sela o pacto; há a presença da doença (como em A montanha mágica); há até a antecipação da obra posterior do genial escritor alemão: Adrian compõe uma obra utilizando a história do papa Gregório, que Mann contará em O eleito, em 1951, poucos anos antes da sua morte, em 1955).

No período anterior à Segunda Guerra, quando Thomas Mann tornou-se um famoso exilado, muita gente afligiu-se porque ele não deixava claro seu posicionamento diante da Alemanha nazista, como se ele precisasse deixar mais claro do que escrever coisas inexcedíveis como Histórias de Jacó & Lotte em Weimar (é que, verdade seja dita, na Primeira Guerra ele se destacara pelo nacionalismo fanático, quase chauvinista), os quais iam contra toda a burrice e intolerância dominantes.

Quando o fez, foi um acontecimento memorável e seu irmão, o também notável Heinrich Mann, o cumprimentou comentando que ele dissera a “palavra final”.

Os maravilhosos romances de Mann anteriores a Dr. Fausto sempre foram acusados de ter um pé no passado e não acompanhar a radicalidade formal de outros grandes romancistas do século (Joyce, Kafka, Proust, Virginia Woolf, Faulkner, Musil, Hermann Broch, Alfred Döblin, Céline). Com Dr. Fausto, o maior dos escritores de ficção, mais uma vez teve a última palavra.

                                II

(resenha publicada originalmente em A TRIBUNA de Santos, em 28 de setembro de 1993)

Uma obra-prima está comemorando 50 anos: O jogo das contas de vidro (Das Glasperlenspiel, traduzido por Lavínia Abranches Viotti &  Flávio Viera de Souza), de Hermann Hesse que, publicado em plena Segunda Guerra, procura demonstrar como impossível à cultura erudita e ao individuo escaparem da marcha histórica, como tenta fazer a imaginária província de Castália, a qual, num futuro distante, separada do mundo, procura preservar os valores culturais mediante a prática de um jogo esotérico e sofisticado.[2]

Joseph Knecht (infelizmente abrasileirado para José Servo) é um dos “eleitos” para estudar na Castália e depois dos seus anos preparatórios, quando se destaca como um dos melhores jogadores, resolve levar uma existência de outsider, inclusive vivendo durante certo tempo com um sábio eremita, especialista no I-Ching. O que não impede que, com a morte de Thomas Von der Trave, o mestre dos jogos, Knecht se torne o líder de Castália e responsável por sua reaproximação com o mundo e reformulação de seu senso de utilidade. Aliás, num pequeno texto de 1925, Autobiografia resumida, Hesse toca no cerne do impasse pedagógico: “É verdade que nossos mestres  nos ensinavam, naquela divertida disciplina chamada história do mundo, que este sempre foi governado, guiado e transformado por homens que fizeram suas próprias leis e romperam as regras tradicionais, sendo-nos dito que esses homens deviam ser reverenciados. Mas isso era tão enganoso quanto todo o resto da nossa instrução, pois, quando um de nós, com boa ou má intenção, reunia coragem para protestar contra alguma ordem ou mesmo contra algum costume tolo, ou meio de fazer as coisas, não recebia reverência nem louvor como exemplo, mas era castigado, escarnecido e esmagado pela força superior, covardemente usada, dos professores”.

Nestes tempos de picaretagem mística e incapacidade literária, seria bom o leitor constatar que não há nada de novo nessa moda e conhecer um livro ao mesmo tempo profundamente espiritual e de altíssima qualidade estética, o que sempre revela o verdadeiro alquimista, que sabe usar a tradição esotérica sem diluí-la ou pastichá-la.

Mestre do jogo, Hesse brinca com a narrativa,com uma deliciosa ironia, pois o biógrafo-narrador da vida de Knecht faz um extenso elogio à impessoalidade e papel funcional dos membros da ordem castálica, e no entanto mostra a vida de um “funcionário” que era essencialmente uma grande individualidade (o que, à época, ia contra os robóticos membros da Gestapo, que sempre alegavam “estar cumprindo ordens”, executando sua função), transformadora, que percebe que o saber não pode ficar congelado em instituições, tem de fazer parte da práxis humana.

Essa concepção do funcionário zeloso de suas tarefas e de seu papel numa vasta organização, e que também é um indivíduo extraordinário, de certa forma aproxima o livro de Hesse do também magistral Memórias de Adriano (1951),de Marguerite Yourcenar.

Outro aspecto apaixonante de O jogo das contas de vidro é que ele condensa e depura os temas e preocupações de várias obras de Hesse, bem mais famosas, tais como O lobo da estepe, Sidarta & Demian; sem desmerecer esses livros, a história de Joseph Knecht o autor alemão finalmente conseguiu se livrar de um simbolismo às vezes um tanto fácil e esquemático, e de uma certa fraqueza na caracterização dos personagens, na sua relação sempre didaticamente dialética (isto é, um complementa o outro, vale lembrar aqui de Narciso & Goldmund).

As “amizades dialéticas” de Knecht são marcantes: Tegularius, o jogador brilhante e neurótico; o padre Jacobus, membro de uma ordem religiosa para onde Knecht é enviado numa importante missão…

Há também a parte final, constituída de poemas (alguns belíssimos) e da história de três encarnações anteriores de Knecht: uma, no princípio da humanidade,(O conjurador da chuva); uma passada nos tempos iniciais do cristianismo, a lindíssima O confessor, que por si só vale o livro; e uma que se passa na Índia e que lembra Sidarta. Eis, leitor, os “anos dourados” da peregrinação existencial e espiritual. Autoajude-se leitor: leia livros lindos como esse.


[1] Eu , então, li o romance (em 1985), mas a princípio não gostei, como gostara, por exemplo, de A montanha mágica, Os Buddenbrooks, O eleito, A morte em Veneza ou José e seus irmãos, apesar de achar o projeto admirável. Custei um pouco a apreciá-lo devidamente.

[2] Eu o li a primeira vez em 1984. Devo dizer que durante um bom tempo “resisti” a Hermann Hesse, que me parecia algo meio à Castañeda ou Lobsang Rampa, e não gostara de Demian nem de Sidartha (mudei de opinião depois sobre os dois).

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