
NOTA INTRODUTÓRIA- No dia 04 de novembro último, gravei minha participação para o I- Simpósio de Letras da UNIMES VIRTUAL, promovido pela Universidade Metropolitana de Santos, cujo tema é “O messianismo sob a ótica da literatura”, o qual será veiculado de 22 a 26 de novembro (acesse www.unimes.br ). Reproduzo abaixo meu texto-base (o título “Um neoliberal no sertão” é de certa forma uma provocação moleca ao título dado à minha companheirade mesa, Clara Versiani, à sua intervenção, a respeito de Os sertões e Euclides da Cunha, “Um republicano no sertão”).
Aproveito para agradecer o convite e a atenção e gentileza da professora Maria Teresa Ginde de Oliveira.


UM NEOLIBERAL NO SERTÃO
Num dos textos reunidos em SABRES E UTOPIAS-Visões da América Latina, datado de 1979, quando então escrevia A GUERRA DO FIM DO MUNDO, que seria publicado em 1981, Mario Vargas Llosa afirma:
“É preciso desconfiar das utopias: elas terminam, em geral, em holocaustos. Há uma estranha verdade na política, que consiste em que as soluções medíocres costumam ser as melhores soluções… Não há outra saída, na política, que não seja o realismo. Na literatura não, e por isso ela é uma atividade mais livre”.
Em que medida essas afirmações podem ser rastreadas no romance que naquele momento ocupava o escritor peruano; em que medida elas contêm uma afirmação profunda e lúcida ou, pelo contrário, oferecem uma resposta fácil e confortável (pois estão muito próximas da visão de “fim da história”, da queda das grandes narrativas—nas quais eu acredito—e a submissão à idéia de que a democracia está entrelaçada com o mercado e a globalização); e, mais ainda, em que medida podemos, a partir delas qualificar Vargas Llosa e o próprio romance A GUERRA DO FIM DO MUNDO de reacionários, são as coordenadas pelas quais me guiarei nesta minha intervenção.
De saída, esclareço um ponto: considero A GUERRA DO FIM DO MUNDO um romance formidável, uma grande obra de ficção; porém, trata-se igualmente de um livro reacionário e, nesse ponto, para mim, revoltante. Outros o acharão lúcido.
Leitores que cheguem à mesma conclusão, a respeito do reacionarismo da obra podem se recusar a vê-la como uma obra-prima, ou mesmo como um bom romance. Há em mim prioritariamente um leitor de romances que se satisfez de tal maneira com o exercício narrativo que o saldo ideológico negativo não chega a ser um óbice intransponível, embora incomode. Esse lado de Vargas Llosa sempre será incômodo (mas eu já comecei a lê-lo com essa visão meio fracionada e esquizofrênica, pois foi na época de História de Mayta e Contra vento e maré, livros que arrepiam qualquer pessoa minimamente de esquerda), e agora veio à tona com mais evidência ainda com o Nobel.
`Para mim, o que salva o livro; mais do que isso, transfigura-o, é o que podemos chamar de sabedoria narrativa, e mais precisamente ainda, sabedoria épica. Na épica, desde Homero, e não excluindo o aspecto da significação final que uma obra narrativa possa e deva tomar na mente do leitor, ou quaisquer aspectos transcendentes, é a imanência do mundo representado, a materialidade da sua representação dos elementos contingentes da existência, que avultam para o leitor. Mais até que Os sertões, e na esteira de obras como Ilíada e Guerra e Paz, pode-se dizer do livro de Llosa, o que José Veríssimo afirmou a respeito do livro de Euclides da Cunha: “é ao mesmo tempo o livro de um homem de ciência, um geógrafo, um geólogo, um etnógrafo; de um homem de pensamento, um filósofo, um sociólogo, um historiador; e de um homem de sentimento, um poeta, um romancista, um artista…”


Poucos romancistas contemporâneos podem se gabar de atingir esse grau de representação do imanente, e o que mais fica na mente do leitor de A GUERRA DO FIM DO MUNDO, caso ele realmente goste de narrativas, é como ele realmente nos faz entrar em Canudos/Belo Monte, além de todos os outros espaços narrativos, e com sua sabedoria épica e com seu foco narrativo multiforme, pode ser através do ponto-de-vista de mente de um dos revoltosos, ou do círculo imediatamente próximo ao Conselheiro, ou mais afastado, ou então através de um soldado, “um ateu, um franco-maçom, um protestante, um cão” (são variados os anátemas) que ali está para destruir a rebelião e exterminar os “ingleses”.
Tal sabedoria épico-narrativa faz com que, na primeira parte (constituída por sete capítulos [1]), que causa estranheza ao leitor habitual de Vargas Llosa (ele pensa: será que o autor de Conversa na catedral e outros livros virtuosísticos se rendeu à facilidade narrativa do best seller?), por se constituir de uns tantos sumários narrativos, quase relatórios, de trajetórias de vida que foram transfiguradas pela aparição do Conselheiro. Mergulhando no desenvolvimento da narrativa, que vai se amplificando e complexificando-se, constatamos o acerto dessa técnica: quando acontece a quarta, a apocalíptica de fato, expedição, e acompanhamos “de dentro” a guerra, não somos estorvados por dados biográficos, explicações e trajetórias lineares. O mundo romanesco já está devidamente “mobiliado”.
Tal sabedoria épico-narrativa, tão poderosa e convincente, também se coloca a serviço da má-fé ideológica (ou, para amenizar as coisas, da sua má consciência, digamos) : pois mais do que discutir e analisar (embora haja discussões e análises ao longo do texto) a loucura do visionarismo utópico do Conselheiro, muito calcado na espiritualidade mais severa e anti-corporal, ele a esvazia de significado, ao imergir Canudos/Belo Monte na mais pura materialidade, num avultamento do corpóreo, do fisiológico, inscrito até no viver a qualquer custo, em qualquer condição, o que transforma boa parte da última centena de páginas do romance uma experiência quase irrespirável, opressiva, acachapante.
Num outro texto de SABRES E UTOPIAS, por ocasião do centenário da destruição de Canudos, em 1997, Llosa caracterizou da seguinte maneira o Conselheiro e sua liderança no sertão:
“O que Antonio Conselheiro proporcionou àqueles milhares de homens e mulheres, talvez os mais desamparados do país, para que chegassem ao ponto de se imolar por ele? Fiquei com essa pergunta em minha mente obsessivamente durante todos aqueles anos, enquanto estudava as interpretações contraditórias sobre Canudos, sem encontrar uma resposta satisfatória, seja naqueles que o explicam como um caso simples de fanatismo religioso e de barbárie social, seja nos que quiseram ver em Antonio Conselheiro uma espécie de Lenin do sertão. Mas, depois de refazer, ao longo de várias semanas, em setembro e outubro de 1979, o percurso do Conselheiro pelo interior da Bahia e de Sergipe, ouvindo os filhos e netos dos que chegaram a ouvi-lo, naquela paisagem de uma beleza rude, naquela sociedade rudimentar que parecia não ter mudado quase nada, a resistência de Canudos tornou-se, para mim, menos enigmática.

O sucesso da pregação do Conselheiro se deveu, seguramente, a que ele transformava em virtuosas, radicalizando-as, as realidades impostas pelas necessidades ao povo que o ouvia. Aquelas vidas precárias, eternamente ameaçadas pela seca e pelos bandidos, dizimadas pela fome, pelas doenças, pela violência, que conviviam com a catástrofe, estavam predispostas a admitir a proximidade do Apocalipse e a acreditar que a vida—a história—era uma simples antessala de outra vida melhor e mais verdadeira: a morte.
A frugalidade de costumes era obrigatória para o sertanejo. O Conselheiro transformou a maldição em bênção. Assim como dignificava a morte, dignificou a pobreza. Ele, que não podia dar pão aos que o escutavam, soube dar sentido e valor para a fome que padeciam. Seus jejuns, sua simplicidade no vestir e no morar, converteram-se, graças ao Conselheiro, em práticas escolhidas, como garantia da salvação eterna. Como poderiam não entender uma filosofia enraizada na única coisa que possuíam: fome, morte, estoicismo? A missão do Conselheiro foi essencialmente espiritual. No interior do esquema religioso de seu tempo, ele fez seus aqueles temas e convicções que poderiam tornar psicologicamente desejável, para os homens e as mulheres do sertão, um destino do qual não tinham como escapar.
Por outro lado, o Conselheiro pratica a moral que prega. Quase não come, não tem nada além da túnica e das sandálias que traz no corpo, prefere dormir no chão a dormir em redes ou catres, é casto. Não é de estranhar que, diante das alternativas que tinham, os sertanejos tenham decidido que ele era o porta-voz de Deus, e não certos párocos de ética menos inflexível…”
Parece uma bela, precisa e justa avaliação do papel do Conselheiro como líder carismático e cuja mensagem basicamente evangelizadora foi tragicamente mal compreendida. Todavia, se prestarmos mais atenção, vemos que é uma descrição parcial e cômoda: trata-se do Conselheiro pré-Canudos.


Essa descrição, que privilegia a autoridade espiritual e moral, não dá conta da experiência de Belo Monte, da sociedade utópica e igualitária, da experiência espontânea de organização popular, que ali se constituiu, e que em última instância, foi uma experiência política, e subversiva, e na qual havia indivíduos com uma noção muito precisa de organização, distribuição e engenharia social (não sou eu que estou dizendo, no próprio romance de Llosa há destaque para o gênio administrativo de Antonio Vilanova); e também dos atos políticos dos conselheiristas (ainda que não-mancomunados com quaisquer partidos monarquistas ou agentes estrangeiros, tal como se alardeou).
O Conselheiro aparece muito pouco em A GUERRA DO FIM DO MUNDO, as cenas em que está presente ou fala alguma coisa, principalmente depois da primeira parte, são muito raras. Na última e asfixiante parte, todo o seu projeto espiritual desmorona, inclusive no seu próprio corpo (ele morre de disenteria aguda) e o corpóreo, o físico, a sobrevivência miúda é que se impõem (exemplos colhidos ao acaso: “A idéia de apodrecer atormenta Teotônio Leal Cavalcanti”; “É uma das vítimas dessa diabólica arma dos canibais que tem destruído a pele de bom número de patriotas: as formigas caçaremas. No começo, parecia um fenômeno natural, uma fatalidade, que esses ferozes bichinhos, que perfuram a pele, provocam pruridos e uma ardência atroz, saíssem de seus esconderijos com o fresco da noite, para deleitar-se sobre os adormecidos. Descobriu-se, porém, que esses formigueiros, construções esféricas de bairro, são os jagunços que trazem até o acampamento, e aqui os arrebentam, para que suas hordas vorazes façam estragos entre os patriotas que descansam…”;”Pois às vezes era assim que devolviam os jagunços à prisão, sem olhos, sem língua, sem sexo, pensando que esse espetáculo destruiria o moral dos que ainda resistiam”; “Tanta carne humana, tanto banquete de cadáver, os meses do cerco, tudo isso fez os cães ferozes, iguais a lobos e hienas. Surgiram matilhas de carniceiros, tanto em Canudos como, sem dúvida, no acampamento dos soldados, em busca de alimento humano”;”Quanto dura esse deslocamento às cegas, afogando-se, esbarrando em paredes, paus, gente que lhe impede o caminho e o empurra a um lado, a outro lado, para a frente, pelo estreito, sinuoso corredor de terra no qual, de quando em quando, ajudam-no a subir por um poço escavado no interior de um casa para logo voltar a sepultá-lo na terra e a arrastá-lo?.. e espantando-se de que seu corpo o obedeça e não se desmanche em pedaços como, parece, pode acontecer a cada instante”[2];para não falar no medo do jornalista míope do Anão, de morrerem ali, em Canudos, onde foram parar devido ás peripécias aventurescas da narrativa), mas nada tão pungente quanto a visão dos últimos momentos do Conselheiro: “Então, o barulhinho que se desprende do catre, que escapa debaixo do Conselheiro… É um barulhinho que não agita o corpo do santo, mas já a Madre Maria Quadrado e as beatas correm á sua volta, para levantar seu hábito, limpá-lo, recolher humildemente isso que—pensa o Beatinho—não é excremento, porque o excremento é sujo e impuro, e nada que provenha dele pode ser nem sujo nem impuro. E podia ser suja, impura, essa aguinha que mana sem parar, faz seis, sete, dez dias, desse corpo lacerado? Terá, talvez, nestes dias, comido qualquer coisa que obrigue seu organismo a evacuar as impurezas?… Havia algo misterioso e sagrado nessas ventosidades súbitas, depuradas, prolongadas, nessas acometidas que pareciam não terminar nunca, acompanhadas sempre da emissão dessa aguinha.”


Se o Conselheiro, embora figura-chave, mal aparece no livro, Euclides da Cunha está ausente. Seria interessante indagar por que, ainda mais que Llosa criou a figura do jornalista míope, que não ganha nome ao longo da narrativa, uma figura grotesco-patética. Ele é um dos três “aleijões” ligados à transmissão verbal de fatos e histórias, que curiosamente aparecem com destaque no livro (diga-se de passagem, a má consciência com relação a ser um escritor é constantemente tematizada por Vargas Llosa, basta lembrar da frustrada carreira de Zavalita, em Conversa na Catedral, a louca trajetória de Pedro Camacho, em Tia Julia e o escrevinhador, e até no já tardio Travessuras da menina má temos o tradutor que é um escritor enrustido, na retranca). Utilizo o termo aleijões, que parece pejorativo, mas é dessa forma que os próprios personagens se vêem, e o restante também: o jornalista míope é todo desconjuntado,mal acabado, e é o mais próximo do “civilizado”, da cultura letrada oficial, é o ser da palavra que vem de fora do sertão, e no meio da batalha tem seus óculos quebrados, e acaba vivendo meses em Canudos sem enxergar nada direito, com lentes em caquinhos formando um quebra-cabeça sem nitidez, numa metonímia perfeita da sua cegueira ideológica; o Leão de Natuba pertence ao círculo mais próximo ao Conselheiro, e tendo aprendido a ler quase sobrenaturalmente, é quem lhe registra todas as palavras, é o escriba de Canudos, e é um indivíduo deformado, que anda como um animal, utilizando pés e mãos (seu maior mal, no entanto, é não ter fé); e, por fim, temos o Anão, que pertencia a um circo que foi se deteriorando e perdendo seus integrantes, e no qual sua função era contar as histórias de cavalaria que inundam o sertão; portanto, é o representante da oralidade, do narrador popular e iletrado. O jornalista míope e o Anão acabam dependentes de uma mulher, Jurema, que os protege em Canudos e se torna mulher-mãe (mesmo quando passa a ter relações sexuais com o jornalista míope), mais forte que eles, ambos desamparados.
A cada um desses três seres da palavra mal formados e incompletos corresponde um visionário, um fanático, um “louco” : ao Leão de Natuba corresponde o messiânico Conselheiro, ao jornalista míope o coronel Moreira César, com seu fanatismo republicano, seu positivismo jacobino, sua crença de que só uma ditadura militar consertaria o país, e ao Anão corresponde o escocês Galileu Gall, adepto da frenologia, tomado pela Revolução, pela Razão histórica, pela racionalidade progressista, e que vê em Canudos um movimento revolucionário mal orientado, por isso tem a obsessão de chegar até lá (o que gerará alguns dos incidentes romanescos mais interessantes do livro, e acabará ligando o Anão a Jurema e o jornalista míope), o qual, aliás, também pertence ao universo de seres meio bizarros ligados à palavra, pois também escreve.



Os dois trios, Conselheiro-Moreira César-Galileu Gall e Leão de Natuba-jornalista míope-Anão representam os extremos, o absurdo configurado pelo episódio de Canudos. Como contraponto, há a figura lúcida e equilibrada do Barão de Canabrava, dono da fazenda de Canudos invadida pelos conselheiristas, e que perdeu prestígio político com a República, sendo, por isso, suspeito de fomentador da revolta sertaneja, mancomunado com os ingleses. Seus colóquios tanto com Galileu Gall quanto com o jornalista míope, mostra que é o único a manter uma posição não-utópica (que, como vimos, levará sempre a uma hecatombe: e de fato todos os três visionários morrem), apesar de se confessar fascinado por esses seres quiméricos. Por exemplo, Gall, ao ouvir suas idéias: “…voltou a examinar Gall como um entomólogo fascinado por uma espécie rara”. Ele o compara ao coronel Moreira César: “Raça estranha, a dos idealistas. Não conhecia um só até agora; em poucos dias, tratei com dois. O outro é o coronel Moreira César. Sim, ele também é um sonhador. Mesmo que os sonhos dele não coincidam com os seus.” Diante da teimosia de Gall em chegar a Canudos, o Barão constata que o mundo parece vítima de “um mal entendido irremediável”: “Tudo o que deseja é morrer como um cão entre pessoas que não o entendem e não entende. Pensa que vai morrer como um herói e, na verdade, morrerá como mais teme, como um idiota.”
Da maneira como delineia a figura do Barão de Canabrava, temos a impressão de que Vargas Llosa é até monarquista: temos um cavalheiro, um homem culto, interessante, elegante, nada truculento, como os coronéis nordestinos que o Modernismo nos acostumou, um latifundiário cujos jagunços são educados, ordeiros e pacíficos. Dá para acreditar? Sua amargura maior é o fato de que a mulher tenha sido tão afetada pelo episódio de Canudos (uma outra fazenda foi queimada) que tornou-se desequilibrada: “Tinha sido Canudos, essa história estúpida, incompreensível, de gente obstinada, cega, de fanatismos antagônicos, a culpada pelo acontecido a Estela”.
Há muitos episódios e personagens pungentes em A GUERRA DO FIM DO MUNDO, mas nenhum deles desperta nossa simpatia como o Barão, por ser mais nosso contemporâneo por assim dizer. Os demais são interessantes na medida da sua loucura, do seu arcaísmo, do seu anacronismo, do seu exotismo, ele é próximo de nós. Mas tudo clama contra essa identificação, já que ele é justamente um dos pilares do atraso brasileiro que persiste até hoje: o latifundiário, ’dono” do estado. É como se Vargas Llosa nos impingisse um José Sarney como a carta da lucidez e da ponderação no seu baralho de caos e destruição. Daí porque considero reacionário esse livro tão belo.
(novembro de 2010)
[1] A GUERRA DO FIM DO MUNDO é dividido em quatro partes, grosso modo:
– a primeira, que apresenta os principais personagens, com sete capítulos;
-a segunda, muito curta (menos de 15 páginas), que apresenta um panorama da política, e uma paródia da maneira como os jornais iriam se ocupar do fenômeno de Canudos, em três capítulos;
– a terceira, que focaliza a desastrosa expedição de Moreira César, com sete capítulos;
– a quarta, com a expedição final e arrasadora, e os últimos momentos de Canudos, com seis capítulos. A estrutura dessa quarta parte lembra outros romances de Vargas Llosa, porque seu eixo é uma conversa entre o jornalista míope e o Barão de Canabrava.
[2] Poderia multiplicar á exaustão esses exemplos em que se misturam os horrores e selvageria da guerra (de ambos os lados) com minúcias fisiológicas extremas. Todos são reduzidos ao corpo, produza ele alegria, prazer, angústia, terror, dor, putrefação, excrescências e até lampejo de inteligência e espiritualidade. No final, essa visão criatural e corpórea atinge o próprio Barão de Canabrava, tão distante—geograficamente—dos eventos, mas que é arrastado para eles pelo colóquio com o jornalista míope.
Nota- o termo criatural é utilizado por Erich Auerbach em Mimesis, contraposto ao figural; este último, seria uma projeção transcendente, enquanto o outro nos restituía ao invólucro material destinado a morrer e a apodrecer.
