(Uma versão da resenha abaixo foi publicada originalmente em A TRIBUNA de Santos em 30 de out)
“PRIMEIROS DIAS DO VERÃO ETERNO” é uma grata surpresa. Roger Lombardi tem o prazer de fabular e narrar, às vezes com gordura de mais em sua prosa e excesso de diálogos.
Mas ele se sai bem tanto nos contos a temporais quanto nos que se passam na realidade cotidiana, onde sempre há um elemento sobrenatural, com exceção de “Morangos”, o qual trata do despertar sexual violento de uma mulher madura. Já em “A cadeira” quem se senta nela sofre experiências horrendas este relato é prejudicado por delongas na primeira parte. Em “O oficial”, este aparece misteriosamente na casa de três irmãs, alvoroçando-as. É interessante a dinâmica entre as irmãs. Em “O caminho para o jardim”, mistura tarô e o Livro de Jó.
Nos contos a temporais, temos “A macieira”, a qual da frutos gigantes e semeia discórdia, em “Até o amanhecer”, um caçador perde-se de seu grupo na floresta, encontrando uma choupana onde viverá perturbadores eventos. Talvez o conto que melhor representa “PRIMEIROS DIAS DO VERÃO ETERNO” seja “A carona”. Tem todos os defeitos apontados, com uma intrigante trama onde aparece um anjo (sem cair no ridículo), com um clima de suspense notável e um final perfeito: “Deus, perdoa meus pecados e me receba em seus braços.
O anjo, então, colocou a mão direita em seu ombro direito e falou com uma voz grave:
Não há nenhum deus para onde vamos.
Atingido por outras balas no peito, braços e coxa, Carlos ainda teve tempo de entender o sentido daquelas palavras antes que tudo fosse ofuscado pela luz mais pura que já havia visto, dominando tudo de forma tão intensa e tão poderosa que não pôde mais sentir nem ver mais nada” (desculpem o spoiler).
Roger Lombardi lembra Lygia Fagundes Telles, mas falta-lhe a precisão narrativa de seus “mistérios”. Imagino uma segunda edição mais concisa e eficaz narrativamente.
Da maneira como está, “PRIMEIROS DIAS DO VERÃO ETERNO” revela um dos autores mais interessantes do cenário atual.