MONTE DE LEITURAS: blog do Alfredo Monte

17/04/2018

QUALQUER LÉU É UM MUNDO: PRIMEIRA PARTE


 

(Uma versão da resenha abaixo foi publicada originalmente em A TRIBUNA de Santos em 17 de abril de 2018)

Confesso que sou imodesto, pois vou comentar um livro que me é dedicado e no qual sou citado várias vezes. Trata-se de “CONVERSA DE JARDIM”, todo mundo sabe que Maria Valéria Rezende é uma das nossas maiores escritoras, mas talvez não saibam que a casa onde mora, em João Pessoa, tem um maravilhoso jardim (eu sei, pois estive lá em diversas ocasiões) e ali manteve entre 2015 e 2017 conversas com Roberto Menezes, físico teórico “fabricador de frases de tirar o fôlego” (como diz Maria, narradora do seu admirável “Palavras que devoram lágrimas”, editado pela Patuá).

Roberto organizou o livro de forma inteligente, não linear, com capítulos curtos celebrando o ato de escrever. Temos: “Disciplina sem rotina longe da ritalina”, “Sucatas e quebra-cabeças”, “A voz do chão”, “Regras próprias”, “Cemitério de planos cemitério de memórias”, “Vasto mundo” (que é a meada principal para a qual a conversa sempre volta), “Da mente pro papel”, “Escrita no gen”, “Qualquer mundo ao léu”, “Além do solipsismos”, “Apanhando o mundo com a mão”, “Da memória e seus ardis” e “Até já”, são alguns dos leitmotivs que conduzem fecundos diálogos desses dois geniais tagarelas (e quem conhece Maria Valéria sabe que ela é uma incansável Xerazade): “Tem um amigo que diz que sou uma escritora materialista. Nunca faço longas digressões sobre a subjetividade. Na verdade, o sentimento, o que pensam os meus personagens, passa através das ações, do movimento, das descrições das coisas. Ultimamente tenho usado sempre um narrador na primeira pessoa, uma narradora, aliás. É em primeira pessoa, mas não é por ser em primeira pessoa que vou cair na falácia de ficar dissecando os seus sentimentos, nem os meus, como já disse. Faço com que ela, do seu jeito, fale do mundo que está fora dela. E quando ela imprime sua visão do mundo, necessariamente revela o seu ponto de vista”.

No capítulo XVII: “não existe isso de não poder ser escritor pelo fato de nunca ter viajado. Faz assim, dá pra esse jovem ler o meu ‘Quarenta Dais’, que é a descoberta de mundo e mais mundos, você viaja, tem mil viagens a fazer. ‘Quarenta Dias’ é uma odisseia, ‘A pé, ao léu. Numa pequena parte de uma cidade. Qualquer léu é um mundo. Tem que absorver o mundo pelos cinco sentidos” (continua semana que vem).

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