(Uma versão da resenha abaixo foi publicada originalmente em A TRIBUNA de Santos em 27 de março de 2018)
Taylor Caldwell foi um fenômeno. Boa romancista, menos prezada pela crítica, escreveu sobre todas as épocas: a antiguidade, os primórdios do cristianismo, a Mongólia de Gengis Khan, a França revolucionaria, até a Atlântida. “Médico de homens e almas”, “A terra de deus” e “Um pilar de ferro” são algumas das obras desse mapa mundi ficcional.
Em “EU, JUDAS” ela teve a colaboração de Jess Stearn e nos mostra um Judas filisteu abastado, revoltado com o domínio romano sobre a Judeia. Ele se entusiasma pela figura de Jesus Cristo, vencendo seus preconceitos aristocráticos contra os galileus, tidos como a ralé dos judeus (aliás, o livro revela as picuinhas e as diferenças entre os apóstolos). O que desaponta Judas e que o leva a cair na armadilha da traição é que Jesus não se apresenta como rei dos judeus, enfrentando os romanos, mas prega a respeito de um vago reino onde judeus e pagãos encontrarão a salvação, por isso perdendo prestigio, mesmo fazendo milagres espantosos.
Dando voz e vida a Judas, utilizando os eventos bíblicos com expressividade, o livro ganha força ao colocar em cena (praticamente em todos os capítulos) a cisão entre as diversas facções de Israel. Publicado em 1977, não dá para negar sua eficácia como exercício de imaginação e atualidade (há um belo epílogo protagonizado por Maria Madalena): “Não compreendendo o meu patriotismo, a maioria dos discípulos me considerara descrente. Mas o próprio Jesus desviava os ditos deles e me mostrava que me achava tão bom quanto os outros. – Tu, Judas, tens a tua missão, como os outros, e serás lembrado depois que muitos tiverem sido esquecidos. – Minha missão – disse eu – é libertar o meu povo. Ele levantou as sobrancelhas, delicadamente. – O teu povo, Judas? E posso saber quem é? – Os judeus em todo Israel e na Diáspora que desejem livrar-se de Roma. – E os outros povos? O povo de Roma, que desprezas, também não é vítima dessa tirania? Ele estava sempre a complicar as coisas. – Não foi dito claramente pelos profetas que o Messias libertará Israel, de modo que triunfará sobre as setenta nações? – Tu então queres substituir a tirania romana por outra? ”.