(Uma versão da resenha abaixo foi publicada originalmente em A TRIBUNA de Santos em 30 de janeiro de 2018)
Apesar do título amplo, “CRER OU NÃO CRER”, sete colóquios entre o padre Fábio de Melo e o historiador Leandro Karnal (duas personalidades midiáticas sobre as quais sempre tive reservas), restringe-se à esfera católica, pois temos um padre e um ateu que foi fundo na formação católica: “KARNAL: Fiz curso ainda jovem na diocese de Novo Hamburgo. Depois, foi em um Cascavel, onde fiz o noviciado. Recém-saído de uma aula de mística, uma senhora pediu a Eucaristia. Ela ligou para o padre, mas ele não podia. Eu acabei indo… Era uma estrada deserta e no caminho havia pessoal mal-encaradas. Eu me lembrei da história de São Tarcísio, que foi morto levando a Eucaristia. Foi apedrejado por outras crianças; então, naquele momento, eu desejei o martírio. Eu tinha 18 anos. Das bobagens que se podem fazer na juventude, desejar martírio é a menos grave (risos). Não fui apedrejado”.
Eu sou descrente e achava o papado uma coisa bizarra (tinha horror aos papas João Paulo II e Bento XVI), mas Francisco I é uma figura admirável, um daqueles anciãos (como o ex-presidente do Uruguai, José Mojica), cujo bom senso destoa do cenário lúgubre da liderança nacional e internacional, repleto de personagens odiosos: “PADRE FÁBIO: Quando a fé em Deus não se desdobra em amor à vida, a religião pode se tornar um instrumento de alienação, gerando um desprezo pela história e uma supervalorização da vida pós-morte. O desafio é estabelecer um caminho pelo qual possamos experimentar o equilíbrio entre a transcendência e a imanência”.
Eu era cético quanto ao livro. Achei-o bem acima da média. Não esqueçamos, porém, que todos (o papa, o padre e o historiador) estão inseridos na civilização do espetáculo: “Deus é vítima da inteligência humana”.