(Uma versão da resenha abaixo foi publicada originalmente em A TRIBUNA de Santos em 14 de novembro de 2017)
“Seu Mazinho se lembrava de tudo. Lembrava-se das histórias vividas e mais ainda das histórias vividas e mais ainda das histórias contadas. Parece que aqueles causos que ouvira dos velhos eram os mais reais. Tinham entrado fundo na sua lembrança. As histórias vividas não tinham as cores nem os sons e cheiros daqueles que seus ouvidos de bacuri ouviram. Com o passar do tempo, Mazinho já não sabia se sabia de ter ouvido ou se sabia de ter vivido. Era tudo igual em sabença”; “De vivo mesmo, só ficaram as histórias ouvidas que circulam pelas suas veias caboclas”.
Os trechos acima são de “Duelo com o Pescador”, onde Decio Zylbersztajn faz uma brilhante analogia entre histórias de pescaria e a chegada da “civilização branca”, destruindo a cultura e economia caboclas, herdadas dos índios e negros.
“Qual a graça de existir um parque vazio? ”, lemos no conto – título de “COMO SÃO CATIVANTES OS JARDINS DE BERLIM” (o qual curiosamente destoa dos outros 10 da coletânea, mas é uma obra-prima), uma intrigante trama sobre duas irmãs ucranianas, uma delas viciada em heroína, que se envolvem com um turista provinciano, que adora parques, e um velho jardineiro. Não deixe ninguém contar o desfecho, que vai mostrar a “graça” de um parque vazio.
Decio Zylbersztajn é bom tanto nos relatos mais curtos, além de ser afeito às frases lapidares. É o caso de “Puro sangue Árabe”, “A chuvarada”, ambos excelentes. E eu fico estupefato de ele não ter mais reconhecimento (continua na próxima semana).
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