(Uma versão da resenha abaixo foi publicada originalmente em A TRIBUNA de Santos em 12 de setembro de 2017)
Juliana Diniz já disse a que veio no seu livro de estreia, “O Instante Quase”: ser uma das melhores autoras do momento. Ela tanto gosta de praticar a narrativa “tradicional” quanto de experimentar. É o caso de “O MERGULHO”, o qual evoca as obras do chamado “Noveau Roman”, movimento dos anos 60 que procurava tirar o prestígio dos personagens, tratando o ser humano como coisa entre coisas, mais um elemento na paisagem. A maioria dos críticos não aprecia, o que não é o meu caso, pois há dois gênios nessa leva: Marguerite Duras e Claude Simon.
“Sei que não o terei, mas sigo embalada para o salto, resignada com a brevidade frouxa deste presente sem passado ou futuro que sua chegada me concede. Seus olhos mais uma vez buscam os meus. É tempo, é esta a nossa hora”.
“O MERGULHO” nos apresenta um casal num lugar em ruínas, com destaque para uma piscina estagnada. Nada nos é informado sobre eles. Estão vivos? Estão mortos? Um está vivo e o outro morto? Não sabemos. Pressentimos uma história trágica.
Saímos das ruínas e passamos para a natureza selvagem, o mar adiante. Será uma libertação ou a repetição de um ritual de amor e morte? “Mergulhamos, as consciências mais uma vez cegas pelo abismo.
A água nos agita os cabelos, o corpo suspenso se contorce: a direção é qualquer direção.
É hora de soltar a sua mão, que se vai.
Meu corpo abandonado no infinito sem bordas,
Navega.
A maresia se desprende da superfície da água, em lentas evaporações. A névoa esmaece a paisagem, aquarela o céu, umedece os sentidos.
Suspenso é o mar transparente com gosto de sal.
Depois o nada.
Desmanchamos.
No (m)ar”.
Juliana Diniz não resolve enigmas. Só nos hipnotiza com o seu domínio da linguagem.
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