Não posso deixar de expressar aqui o meu pesar por Law & Order, a maior das séries dramáticas da televisão, ter chegado a um fim, caso Dick Wolf não consiga reverter a situação, tão inglório, embora o suposto último episódio (exibido aqui no Brasil ontem, dia 31 de agosto, pelo Universal) tenha sido muito bonito, outonal e melancólico, mas sem um único apelo ou dramalhão.
Eu primeiramente gostava mais de um dos filhotes da série, Law & Order-Criminal Intent (assim como sempre preferi Voyager entre todos os produtos Star Trek), cujas primeiras temporadas foram absolutamente admiráveis, mesmo para quem ache intragáveis os maneirismos de Vincent d´Onofrio como o sherloquiano disfuncional Robert Goren (havia a compensação da maravilhosa Kathryn Erbe como a parceira, Alex Eames, que roubava a cena com as melhores tiradas e expressões faciais). Depois, quando a série passou a patinar e os roteiros foram enfraquecendo (agora, ao que parece, com a dupla Jeff Goldblum & Saffrom Burrows, o negócio parece ter engrenado de novo, embora a dinâmica se repita: maneirismos de mais de um lado, precisão—e nesse caso específico—beleza e elegância, do outro), tive a minha fase de encantamento e absorção com Law & Order- SVU, ainda mais com uma Mariska Hargitay pela frente. Porém, as últimas temporadas foram de desastradas a desastrosas, o tom foi subindo, e, mesmo que eu nunca tenha perdido o interesse completo (continuo espectador assíduo) é mais porque gosto dos personagens do que por me convencer das histórias. Vez ou outra acertam, mas o erro foi ficarem entulhando a série com figuras que deveriam ser eventuais e se tornaram centrais, como a legista (Tamara Tunie) e o psiquiatra (B.D. Wong), os quais não têm o que fazer. E depois de Diane Neal, as promotoras foram uma trapalhada…
A principio, então, gostava mais discretamente da série original (houve uma que fracassou e que adorei, Law & Order-Trial by Juri). Mas quando reprisaram os episódios mais antigos, as suas primeiras temporadas, que eu não conhecia, e quando Sam Waterston atingiu o tom grandioso que marcou a última fase de seu procurador Jack McCoy, então a série se tornou para mim o máximo, a melhor de todas, insuperável.
Eu devo dizer que o último formato, com (não há elogios suficientes) Waterston como procurador, Linus Roache como o promotor, a lindíssima e especialíssima Alana de La Garza como assistente, e mais a veterana S. Epatha Merkerson (fantástica) como a chefe da delegacia, e a dupla Jeremy Sisto & Anthony Edwards como detetives, atingiu um ápice de qualidade que fica difícil de manter, após 20 temporadas.
O elenco, aliás, é o grande trunfo da série, afora os roteiros tão excepcionais que deixam no chinelo a maior parte do que se produz no gênero no cinema, a ponto de ficarmos assustados quando se passa a hora e o episódio acaba. Perdi a conta de tantos episódios memoráveis vi e revi em várias temporadas, e é por isso que fiquei emocionado, com lágrimas nos olhos, vejam só, quando cheguei aos últimos momentos do episódio de ontem, que pode ter sido o derradeiro.
Além das participações especiais, os elencos diversos que se revezaram nas vinte temporadas comprovam o que eu e meu amigo Eduardo Vieira sempre comentamos: há um modo Law & Order de interpretar, que é um celeiro de atores incríveis.
A princípio, o promotor era também um grande ator, Michael Moriarty, que nunca conseguiu o destaque merecido no cinema. E o procurador era o soturnamente admirável Steven Hill, um daqueles coadjuvantes de ouro, de que o cinema americano sempre se alimentou.
Nunca vi os episódios de George Dzunda, comecei a ver os episódios em que o grande Paul Sorvino tinha como parceiro Chris Noth, capitaneados pelo sempre irretocável Dann Florek (que depois passou para Law & Order-SVU).
Mas o grande detetive da série, com certeza, e isso creio que é unânime, é Jerry Orbach, que substituiu Sorvino, e é nada mais nada menos do que um rei. Ele e Waterston são o suprassumo da série. Houve duas ótimas promotoras-assistentes de Michael Moriarty e depois Sam Waterston, Jill Hennessey (antes de ser a dr. Jordan de Crossing Jordan) e Carey Lowell,Chris Noth foi substituído pelo então muito belo (e bom ator) Benjamin Bratt, o que rendeu até uma participação ótima da sua namorada da hora, Júlia Roberts. A química da dupla Orbach-Bratt foi um dos grandes marcos do seriado.
Mesmo assim, como não destacar Jesse L. Martin, que substituiu Bratt e depois foi parceiro do substituto de Orbach, Dennis Farina (que também teve parceria com o filho da Família Soprano e ator esplêndido, Michael Imperioli), que só não ganha a coroa porque só há um rei na série entre os detetives, embora só haja um (na verdade, uma) que não funcionou, a inexpressiva Milena Govitch.
Hennessey e Lowell também não tiveram páreo em Angie Harmon, Elizabeth Rohm e mesmo na suave e elegante (sua personagem é assassinada, um fim brutal) Annie Parisse. Foi preciso chegar Alana de La Garza (que vinha de uma personagem chinfrim em CSI-Miami) para que a promotora-assistente se tornasse tão marcante, a mais marcante, creio eu.
Steven Hill foi substituído brevemente pela grande Dianne Wiest, mas confesso que ela não deixou marcas. Fred Dalton Thompson saiu-se melhor e quando Sam Waterston se tornou o procurador, aí a coisa ganhou uma dimensão shakesperiana… Afinal, chegou-se a acusar membros do governo Bush por tortura, num dos episódios mais extraordinários…
Estou desfiando nomes e mais nomes, e minha memória só vai repassando episódios, momentos que eu adorei, personagens que já fazem parte do meu cotidiano, como se fossem pessoas da minha vida…
E aquele tema musical onipresente…
Também estou de luto, Alfredo querido. Law & Order poderia durar até sempre… Acho que um dos grandes lances dessa série é que não tinha mocinhos e bandidos. Todos – detetives, promotores, advogados – erravam muito e acertavam muito. Nove entre dez longa metragens sobre tribunais mostra um dos lados ( promotor ou advogado de defesa ) brilhante e o outro pateta. Em L&O não. A gente nunca sabia o veredito, porque as argumentações eram de deixar qualquer júri com uma reasonable doubt. E mesmo com a enorme diferença entre o sistema judiciário americano e brasileiro, era uma aula de direito.
Seu texto, querido, é perfeito como sempre. A foto de Mr. Bratt foi a cereja do bolo.
Comentário por Cláudia Guimarães — 02/09/2010 @ 2:29 |
Querida Cláudia, acho que seu pequeno comentário sintetizou melhor as qualidades essenciais da série do que o meu próprio texto. É isso aí: o peso da balança não caía maniqueisticamente para nenhum lado, havia erros e desacertos de todos os lados, e a gente não podia prever nada.
Obrigado. Bjs.
Comentário por alfredomonte — 02/09/2010 @ 19:25 |
Que bom ver mais um fã de Lei e Ordem. Realmente é lamentável o final da série, que foi um marco na teledramaturgia policial. Mas Alfredo, como manter no ar uma série que tem apenas 4 milhões de espectadores semanais, isso nos EUA.Esse número é muito baixo, mesmo levando-se em conta que a série era exibida pela NBC, que não está assim com essa bola toda.Eu, particularmente,via Lei e Ordem e vejo ainda, assiduamente, SVU. Gosto mais das histórias dessa última e mesmo com as críticas que tem sido feitas ao seriado, suas histórias são maravilhosas.Agora mesmo, a Universal está reprisando a 10ª temporada e eu assistindo com calma, vejo como as histórias são bem trabalhadas, bem elaboradas. Isso sem falar no seu elenco estelar. Cris Melloni e Mariska Hargitay além de bonitos são talentosos e formam com o restante do elenco um grupo afinado, coeso, que responde em grande parte pelo sucesso do espetáculo.
A NBC deveria ter feito pelo menos un Gran Finale para o original Lei e Ordem.Mas já que não o fez, temos que nos conformar.Todas as emissoras trabalham a partir de números de audiência e , segundo os produtores da série, a audiência de L&O não justificava o custo da mesma.Estou aguardando ansioso a 12ª temporada de SVU. Muitos convidados de peso irão aparecer. E tenho certeza que a Mariska, com aquele talento e beleza que Deus lhe deu, e todo o restante do elenco, irão nos proporcionar grandes momentos.
Comentário por Rafa — 02/09/2010 @ 13:16 |
Caro Rafa, eu também sou fã de Mariska Hargitay, mas você há de concordar que os roteiros pioraram, antes eram excelentes, agora ficou mais evidente um aspecto moralista, de pregação moral. O que salva, realmente, é o elenco extraordinário (no meu texto falo de Dann Florek, mas como esquecer Meloni, Ice-T e o insondávelo Richard Belzer, além das promotoras Stephanie March e Diane Neal?).
Agora, em 20 temporadas do Law&Order original, nunca houve queda na qualidade do roteiro.
Mas isso são detalhes e opiniões diferentes de fãs apaixonados. Quero mesmo é agradecer seu comentário.
Abração.
Comentário por alfredomonte — 02/09/2010 @ 19:23 |
Alfredo, achei fantástica a sua análise do seriado Law & Order. Por incrível que pareça, só recentemente, com 20 anos de atraso, quando fui forçada a permanecer em casa em virtude de uma cirurgia, é que vim a conhecer essa série maravilhosa… estou agora no auge de meu encantamento com Law & Order, acordo às 3h da manhã para assistir os episódios, mas agora resta adquirir os “boxes” com os episódios das temporadas antigas. Aliás, tenho procurado os boxes de Law & Order em diversos sites e ainda não encontrei… será que não foram lançados no Brasil? Só discordo um pouco de você no que tange ao Sam Waterston, sua atuação como procurador Mc Coy é simmplesmente impagável, mas já na pele do procurador-geral, suas aparições foram drasticamente reduzidas, e deixamos de nos deliciar com aqueles shows de interpretação que nos acostumamos a ver… mas, é a vida, tudo passa e tudo muda. Um abraço!
Comentário por Márcia — 13/09/2010 @ 23:18 |
Oi, Márcia, obrigado pelo seu comentário. Mas ainda acho que Sam Waterston continuou grandioso como procurador-geral… Um abraço.
Comentário por alfredomonte — 14/09/2010 @ 12:56 |
O falecido Jerry Orbach era, além de tudo, um ótimo cantor vide aquela pequena pérola off-Broadway chamada “The Fantasticks” em que ele fazia o papel de El Gallo (ele era do cast original de 1960!) e cantava aquela lindíssima “Try to Remember” (música de Harvey Schmidt e letra de Tom Jones, dois geniais compositores). Mas ninguém, na minha opinião, foi mais brilhante, com seu estilo “cool”, que Michael Moriarty. Pena que, dizem as más línguas, ele era um “pain in the ass” para trabalhar junto, ao contrário de Orbach, Waterston, Florek e Steven Hill.
Caro Alfredo, escute Orbach cantar “Try to Remember” e tente não chorar…é impossível.
R.I.P. Law & Order
Comentário por Cássio Queirós — 04/12/2010 @ 12:56 |
Obrigado pela dica, Cássio, eu não conhecia essa faceta do grande Jerry Orbach. Com o fim da série, a minha favorita pessoal continua sendo THE CLOSER, com Kyra Sedgwick.
Abração.
Comentário por alfredomonte — 07/12/2010 @ 12:22 |
Foi um prazer, caro Alfredo. Pena que eu sou um ser anacrônico pois eu gosto é de rever “ALÉM DA IMAGINAÇÃO” (eu gosto muito desta série do grande Rod Serling), “MISSÃO IMPOSSÍVEL” (que, na sua primeira temporada, tinha como chefe de equipe, adivinhe quem? Steven Hill!), “JORNADA NAS ESTRELAS”, “COLUMBO”, “HAVAÍ 5-0” e por aí vai. Só velharia como eu. Eu vou tentar achar este THE CLOSER na minha TV a cabo. Se é dica sua deve ser coisa boa.
Um abraço e, caso você não encontre o Jerry Orbach cantando, me avise que eu dou um jeitinho.
Cássio.
Comentário por Cássio Queirós — 07/12/2010 @ 20:26
Só agora leio suas considerações sobre Law & Order e concordo com quase todas. Descobri o seriado em 2005, se não me falha a memória. De féria, sem nada para fazer fiz uma visita a locadora do meu bairro e o dono tinha na prateleira acumulando poeira a primeira temporada de Law & Order (Não entendo até hoje por que só as duas primeiras foram lançada aqui em dvd – O Universal Channel só exibe até a nona temporada em suas repreises e depois retorna a quarta ou quinta). Foi assim que me apaixonei pela séria, seu estilo sóbrio, suas personagens marcantes. A série é tão fantástica que conseguiu sobreviver a mudança completa de elenco.Elenco esse que foi ficando melhor. Que prazer era (e ainda é, graças as reprises) acompanhar a interpretações, a fina ironia de Jerry Orbach. Pensar que ele não esta mais entre nós me deixa triste. Na minha opinião a mais marcante das assistentes foi Angie Harmon. Sua Abbie Carmichael era marcante por não fazer, como as demias, um contra ponto a determinação de McCoy de levar tudo as últimas consequências. Pelo contrário. Ela era, as vezes, mais “saguinária” do que ele e foi a primeira a conduzir alguns julgamentos até sem a presença de McCoy. Episódios mais conduzidos por ele do que por ele. Essa é a minha discordância. No mais concordo com tudo e vou sentir falta da série. Também concordo com a Cláudia. Nem sempre os supostos mocinhos saiam vencedores. Perdi a conta das vezes em que McCoy saiu derrotado ou que acusou a pessoa errada. De quantas vezes bechas na lei foram aproveitadas e criminosos sairam impunes. Isso sempre contribuiu para dar a série um perfil mais humano, mais próximo do real.
Vivo dando adeus as minhas séries favoritas. Foi assim com Arquivo X e 24 horas e, agora, com Law & Order.
Comentário por Ronaldo — 11/01/2011 @ 19:47 |
Caro Ronaldo, obrigado pelo seu comentário. Devo dizer que também tenho o prazer de ver de vez em quando alguma reprise dos episódios, embora já os tenha visto várias vezes, por causa da, como você mesmo caracterizou, fina ironia de Jerry Orbach. Só a presença dele já vale uma nova olhada. E se não destaquei muito Angie Harmon, foi porque gosto mais de outras (especialmente Alana de la Garza), mas isso não tira a novidade que foi a sua personagem.
Valeu. Um grande abraço.
Espero que The Closer, Burn Notice, The good wife, Mad Men, Dexter e Medium continuem ainda por algum tempo.
Comentário por alfredomonte — 14/01/2011 @ 10:31 |
Dessas eu só conheço The Good Wife. As demais eu nunca assisti.
Law & Order Los Angeles vem, aos poucos, encontarndo o tom. De qualquer forma os tom cinzentos de New York tinham mais a ver com uma série baseada em crimes do que a ensolarada Los Angeles.
Comentário por Ronaldo — 25/01/2011 @ 11:17 |
Eu considero The Good Wife excelente, com ótimos roteiros e personagens. Em compensação, não curti nenhum episódio de Law & Order-Los Angeles. Acho tudo muitoóbvio, sem aquelas reviravoltas na investigação e no julgamento (além dos debates morais e éticos) que marcavam a série original. De bom, só o parceiro sarrudo de Skeet Ulrich e o talento de Terrence Howard (não sou muito fã do Alfred Molina) e ele está particularmente canastrão aqui).
Abração.
Comentário por alfredomonte — 25/01/2011 @ 15:36 |
Eu vou ser minoria aqui. Não lamentei o fim de Lei e Ordem. Acho que a série já deu o que tinha de dar. Aquele formato, crime+investigação+ tribunal me cansou. Não nego porém que a série é um marco na televisão. Vinte anos no ar significa muita coisa.Ainda vejo SVU, e não nego, só mais por causa da Mariska Hargitay. Ela é um espetáculo. Linda e talentosa é ela quem segura aquele barco que, aqui e alí ameaça naufragar mas ainda se mantém forte.
Comentário por Alex — 18/04/2011 @ 13:38 |
Acho que você está certíssimo sobre Mariska Hargitay. Ela é demais, porém a série decaiu muito, ao contrário do LAW & ORDER original, que acabou “por cima”, pelo menos em termos de qualidade. Mas eu continuo a ver SVU mais porque Olivia Benson se tornou parte da vida.
Obrigado pelo comentário. Abração e bom feriadão.
Comentário por alfredomonte — 21/04/2011 @ 15:09 |
Bom dia Alfredo. A paz do Senhor esteja convosco!
Preciso bater palmas para tudo q vc falou, concordo e faço minhas as suas palavras sobre este M A R A V I L H O S O seriado.
Gostaria de abrir um ( ) e acrescentar: Em relação aos Procuradores, eles eram o ponto mais forte da serie, isso pq era a partir deles q víamos se o Promotor era bom, ético, justo ou simplesmente politico. É aí q destaco a participação de Dianne Wiest. De todos os Procuradores da serie ela foi a mais ética e justa, mas politica qdo necessario, a mais equilibrada e sensitiva Procuradora, inteligente, firme, incorruptivel e com isso seu Maravilhoso Promotor, Jack McCoy tomou forças e mostrou seu verdadeiro personagem(isso tudo p/mim). Já Steven Hill e Fred Dalton Thompson foram marcantes, mas muito politicos. Quando a serie promoveu Sam Waterston a Procurador ñ foi nenhuma surpresa, era como estivessemos vendo um funcionario publico de carreira receber sua merecida promoção. Só q a cadeira da Promotoria perderia seu mais e talentoso funcionario, o Grande Dr Jack McCoy. Um profissional exemplar, ético, responsavel e muito justo.
É uma pena ñ poder ter em casa essa preciosa serie, para revermos e matar a saudade de grandes episodios e brilhantes apresentações.
Parabens a Dick Wolf pelas belissimas serieis, todas fantasicas e pelo excelente elenco q conseguiu juntar e alguns manter ao longo desses anos.
Obrigada Dick Wolf.
Paz e bem,
Therezinha, Rio de Janeiro, Brasil
Comentário por Therezinha Fernandes de Almeida — 22/08/2014 @ 10:59 |
Um dos prazeres de ter publicado esse post, cara Therezinha, é a abertura para comentários como o seu, que entre outras qualidades, ressaltou o que os personagens da série tinham de humano, a riqueza deles enquanto “pessoas” ficcionais. Um grande abraço, obrigado.
Comentário por alfredomonte — 22/08/2014 @ 14:30 |